A POLÍTICA DE APAGAMENTO DAS RAÍZES GALEGAS
DO PORTUGUÊS
Anderson Maranhão
Estudante
de Língua Galega na UERJ
A afirmação de que o idioma Português procede do
Latim, embora seja encontrada em diversas gramáticas históricas e dicionários,
para citar algumas obras, não encontra respaldo científico, como afirma Marcos
Bagno. Professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da
Universidade de Brasília, doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela
Universidade de São Paulo e autor de diversas obras, entre as quais as bem
conhecidas “Preconceito Lingüístico: O que é, como se faz” (1999) e “A Norma
Oculta: Língua e poder na sociedade brasileira” (2003), Marcos bagno defende em
diversos artigos e entrevistas que a afirmação de que o Português deriva
diretamente do Latim Vulgar se fundamenta em questões de natureza política,
cultural, econômica e ideológica.
Em seu artigo intitulado “O Português Não Procede
do Latim: Uma proposta de classificação das línguas derivadas do Galego”, ele
diz que quando o Conde Afonso Henriques se tornou o primeiro Rei de Portugal,
por volta de meados do século XII, a língua que se falava em seu Condado
Portucalense era exatamente a mesma falada pelos habitantes da Galiza. Na
verdade, esta língua já era falada no início do ano mil na região que se
estendia da Galiza a Aveiro, período anterior ao surgimento de Portugal. Sendo
assim, segundo Bagno, a denominação daquela língua por estudiosos posteriores
de “Galego-Portugês” é, no mínimo, incorreta, para não dizer tendenciosa. A
entidade política chamada Portugal ainda não existia, mas a entidade
político-geográfica chamada Galécia existia desde a época dos Romanos, de onde
se conclui que a língua falada no Condado Portucalense quando do seu surgimento
não era outra, senão o Galego. Somente no século XIV se estabeleceria, segundo
Bagno, uma fronteira linguística entre o Galego e o Português. Todavia, em
determinado momento este vínculo existente entre ambas as línguas foi
deliberadamente omitido no intuito de aproximar o Português de sua pretensa
língua materna, o Latim. Segundo Bagno, o objetivo é claro: conferir à
recém-nascida língua portuguesa o estatuto de beleza, riqueza, elegância e
funcionalidade para a língua que, a partir de então, seria um dos muitos
instrumentos do imperialismo português. O Português se tornaria o elemento de unificação
do império que estava para ser criado, assim como o Latim o fora para o Império
Romano. Desta forma, o povo português celebrava a sua equiparação ao
conquistador povo romano e o fato de sua língua ser uma filha direta da divina
língua latina.
O que se deu, a partir deste momento, foi o
apagamento sistemático da verdadeira origem do Português, o Galego, este sim um
idioma derivado da variedade de Latim Vulgar que se criou no noroeste da
Península Ibérica. Tal apagamento só foi possível por ter a Galiza passado a
fazer parte da Coroa de Castela e Leão em 1230, o que a fez perder sua
autonomia política a favor de Castela. Desta forma, a Galiza tornou-se um
território sem governo próprio e assim permaneceria por mais de 750 anos,
oprimida por um Estado central espanhol historicamente marcado por uma política
de silenciamento das identidades étnicas sub-estatais, de esmagamento das lutas
em favor da autonomia dos povos submetidos à sua coroa e de substituição
planejada das línguas locais pela língua oficial.
Do exposto, é possível compreender o porquê de
Marcos Bagno citar o gramático português Duarte Nunes que, já em 1606,
afirmaria que o motivo pelo qual o idioma galego seria relegado à mera condição
de dialeto rural seria o fato de na Galícia não haver reis e Corte, afirmação
esta que seria confirmada séculos mais tarde por Max Weinreich, para quem “uma
língua é um dialeto com exército e marinha.”
Anderson
Maranhão é aluno de Língua Galega na UERJ.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO, Marcos. O Português Não Procede do
Latim: Uma proposta de classificação das línguas derivadas do galego. Fonte:http://www.editorialgalaxia.es/imxd/libros/doc/1320761642191_Marcos_Bagno.pdf (último acesso em 03 de maio de 2014, às
14:30hs).
O Português Não Veio do Latim. Fonte:http://jornalggn.com.br/blog/alfeu/o-portugues-nao-veio-do-latim (último acesso em 03 de maio de 2014, às
14:45hs).
Entrevista: Luta contra o preconceito linguístico.
In: Jornal da Universidade Federal do Pará.
Ano XXVIII Nº 118. Abril e Maio de 2014. Fonte:http://www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/index.php/2012/141-edicao-109–novembro-e-dezembro/1408-entrevista-luta-contra-o-preconceito-linguistico
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