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sábado, 26 de setembro de 2015

John Law - A Invenção do Nacionalismo Cívico Contra Europeus

por John Law


Separação entre Etnicidade e Identidade Cívica

Estados-nações devem ser baseados apenas em valores cívicos, direitos individuais, propriedade privada e igualdade perante a lei, sem qualquer referência a etnia. Esta é uma das crenças contemporâneas mais poderosas. Os europeus foram forçados a acreditar que um Estado que identifica seus cidadãos em termos étnicos não pode ser livre. Tal como um Estado liberal diz-se ser aquele em que afiliações religiosas são decididas por indivíduos privados, e que o Estado não deve "impôr" quaisquer crenças religiosas a seus cidadãos, marxistas culturais tem efetivamente impresso sobre as mentes de europeus a noção de que um Estado-nação pode ter de fato valores liberais apenas quando a identidade de seus cidadãos é concebida sem qualquer referência coletiva a sua identidade étnica. A etnicidade deveria ser uma questão de escolha individual e não seria da conta do Estado se identificar com qualquer etnia.

A única identidade política/coletiva que um Estado liberal pode encorajar entre seus cidadãos é a cívica, isto é, a identidade de ser membros de um Estado-nação no qual todo mundo independentemente de raça, sexo e orientação religiosa recebe os mesmos direitos perante a lei. É verdade que, desde o século XIX, os liberais tem reconhecido direitos cívicos para minorias já estabelecidas nas nações da Europa. O que se passou nas últimas décadas vai muito além disso. Nós é dito agora que o liberalismo demanda que nações cívicas sejam radicalmente diversificadas para que se realizem os ideais de uma nação que seja verdadeiramente cívica. Em outras palavras, há um mandato aceito por todos os partidos políticos importantes e todos os teóricos políticos de que as nações ocidentais devem deixar de ser povoadas por cidadãos que pertencem a uma única raça ou a uma raça majoritária, com uma cultura que reflete a história e tradições dessa raça. A diversificação dos cidadãos ao longo de linhas raciais e culturais é agora saudada como a coisa progressiva a ser feito. Aqueles que se opõem à imigração em massa em nome da preservação de seu caráter etnocultural ancestral são automaticamente classificados como iliberais. Você pode criticar a imigração por motivos econômicos, mas nunca em prol de preservar o caráter étnico de sua nação.

Como alcançamos essa posição, do reconhecimento dos direitos individuais de minorias ao consenso dominante entre as elites atuais de que o liberalismo demanda a diversificação de nações ocidentais por meio da imigração em massa?

Os Proponentes Intelectuais do Nacionalismo Cívico

Seja notado que os Estados nacionais da Europa ocidental, como será brevemente demonstrado abaixo, efetivamente emergiram como nações cívicas em celebração consciente de sua herança étnica milenar. Então por que teóricos liberais passaram a aceitar o argumento de que as nações ocidentais, para que sejam verdadeiramente cívicas, não podem estar fundadas na etnia? Parece-me que esta identificação de nações ocidentais com identidades cívicas não pode ser compreendida fora dos esforços teóricos de Hans Kohn, Karl Deutsch, Ernest Gellner e Eric Hobsbawm contra qualquer noção de que nações ocidentais estivessem enraizadas em identidades étnicas primordiais. Segundo Azar Gat, um israelense cujo livro Nações: A Longa História e as Raízes Profundas da Etnicidade Política e do Naiconalismo eu estarei examinando abaixo, estes autores eram "todos imigrantes refugiados judeus da Europa central...todos eles experimentaram identidades mutantes e questões excruciantes de auto-identificação à época das erupções mais extremas, violentas e desconcertantes. Era apenas natural que reagissem contra isso tudo".

Em outras palavras, sentindo-se excluídos dos Estados nacionais com fortes identidades étnicas na Europa central, eles reagiram formulando o argumento de que os Estados nacionais da Europa ocidental foram inerentemente intencionados como exclusivamente cívicos.


Nenhum destes escritores negava que as pessoas da era pré-moderna tinham um senso de afinidades familiares comunais dentro de suas respectivas tribos ou localidades. Seu foco era nos Estados nacionais modernos da Europa, e seu argumento era o de que estes Estados nacionais, e a ideologia correspondente de nacionalismo, eram "construtos históricos artificiais", "tradições inventadas", criados por elites políticas interessadas em forjar Estados territoriais poderosos entre comunidades rurais previamente espalhadas e frouxamente relacionadas carecendo de um senso de identidade étnico-nacional. A afirmação de que nações europeias contém um forte núcleo étnico não seria factual, mas uma arma ideológica empregada por elites políticas buscando criar Estados com apelo de massa, uma infraestrutura nacional, idiomas oficiais, taxação centralizada, moeda e leis nacionais, ao longo da era moderna, culminando no século XIX. As exortações de nacionalistas nos séculos XIX e XX sobre raízes étnico-familiares de suas nações seriam meros artifícios retóricos para induzir nas massas apoio para os esforços das elites em estender seu poder nacionalmente sobre uma população disparatada e jamais consciente etnicamente consistindo de múltiplos dialetos, ancestralidades e lealdades locais.

Com a experiência da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, tanto dentro do liberalismo como do nacionalismo, esta crítica do nacionalismo transformou-se em uma crítica concentrada do nacionalismo étnico, que passou a ser associado com o militarismo alemão na Primeira Guerra Mundial e ao fascismo a partir de então. Enquanto marxistas, tal como Hobsbawm, passaram a defender o internacionalismo proletário, teóricos liberais como Kohn, Deutsch e Gellner começaram a formular uma forma estritamente cívica de nacionalismo, ao mesmo tempo desacreditando o nacionalismo ético como um construto artificial e como a fonte, nas palavras de Hobsbawm, da "xenofobia demótica e do chauvinismo" sem base na realidade.


Obviamente, houve outras correntes intelectuais percorrendo o Ocidente, ideias da Escola de Frankfurt, direitos civis nos EUA, feminismo, pós-modernismo, e, algo que não deve ser subestimado, a pressão de corporações por trabalho imigrante e demanda de consumo baratos, coincidindo e reforçando uns aos outros em um grande esforço para produzir uma forma totalmente nova de identidade ocidental contra a suposta dominação de patriarcas europeus. Muito tem sido escrito sobre estes desenvolvimentos, mas os escritos dos progenitores do nacionalismo liberal ou cívico foram negligenciados. Este tema merce muito mais do que eu estou oferecendo aqui. É suficiente dizer que em países ocidentais o nacionalismo cívico se tornou a única forma aceita de identidade nacional. O significado de nacionalismo cívico é muito bem capturado na primeira frase do verbete da wikipedia:

"Nacionalismo cívico é um tipo de nacionalismo identificado por filósofos políticos que creem em uma forma não-xenofóbica de nacionalismo compatível com valores de liberdade, tolerância, igualdade e direitos individuais".

Segundo Hans Kohn, os Estados-Nações ocidentais eram cívicos desde seus primórdios no final do século XVIII. O "nacionalismo étnico iliberal" era um fenômeno da Europa Oriental, da Rússia e do fascismo, lugares que exaltavam o caráter étnico do povo enquanto suprimiam direitos individuais.


O nacionalismo cívico veio a partir de países do noroeste europeu nos quais uma sólida classe média havia se desenvolvido; os membros dessa classe estavam inclinados a uma concepção do Estado como uma associação voluntária de vontades individuais. Esta era uma classe progressista, ou como disse Kohn, desejosa de uma forma de cidadania baseada em leis originando da razão livre individual; esta classe não gostava de Estados que impunham uma identidade etnocultural sobre seus membros. O nacionalismo étnico, por contraste, veio de culturas carentes de uma classe média, impulsionadas por classes regressivas desconfiadas em relação a indivíduos voluntariosos, e preferindo Estados que impõem sobre seu povo um senso irracional de identidade coletiva étnica inspirada por emoções, ao invés de realidades históricas factuais.

Celebrando a etnia de outros ao mesmo tempo que se acusa europeus de etnocentrismo

Essas ideias ressoaram fortemente no pós-guerra. O próprio termo "etnia" passou a ser definido em termos estritamente culturais, sem qualquer referência a raça ou distinções biológicas entre grupos diferentes. Todo manual de ciências sociais da década de 50 em diante passou a endossar esta definição culturalista. Em combinação com esta definição, acadêmicos acrescentaram uma definição instrumental e/ou funcionalista, segundo a qual a identificação étnica era um fenômeno superestrutural por trás do qual estavam os interesses reais de classes dominantes consolidando seu poder, ou as demandas funcionais de um sistema nacional de educação, administração, guerra e modernização em geral. Eis o que Jonathan Hall diz sobre o uso da etnia:

"No encalço da Segunda Guerra Mundial - e mais particularmente do Holocausto - os motivos para tratar a identidade étnica como uma área válida de pesquisa foram desacreditados... a resposta antropológica à crise acadêmica ocasionada pela Segunda Guerra Mundial foi a abordagem 'instrumentalista' à etnia, que proclamava que a identidade étnica era um disfarce adotado por grupos de interesse para ocultar objetivos que eram mais apropriadamente políticos ou econômicos".

Mas Jonathan Hall então nota que esta abordagem cultural-instrumental também passou a ser vista, dos anos 70 em diante, como inadequada ao não ser capaz de dar conta de inúmeros movimentos de liberação nacional pós-guerra por todo o mundo que conscientemente se identificavam como baseados no sangue e combatiam cruentamente por seus "territórios ancestrais". O que Hall deixa de fora, e deveria ser tido em mente enquanto lemos a próxima passagem, é que os cientistas sociais estavam começando a ver as identidades étnico-tribais no mundo não-ocidental como progressistas, não como identidades fixadas, mas como identidades "negociáveis", em referência a "minorias oprimidas" e sem referência a traços genéticos.

"Ainda assim as ressurgências étnicas dos anos 70 e 80 apresentavam um desafio claro à validade da abordagem instrumentalista; isto despertou um interesse antropológico renovado pelo tema da identidade étnica... a pesquisa atual tende a conceder pelo menos uma realidade intersubjetiva à identidade étnica, ainda que ela difira do academicismo do pré-guerra em um número de pontos importantes. Primeiramente, ela enfatiza que o grupo étnico não é um grupo biológico, mas social, distinto de outras coletividades por sua adesão a um mito putativo de ascendência e familiaridade compartilhada e por sua associação com um território 'primordial'. Secundariamente, ela rejeita a visão oitocentista de grupos étnicos como categorias estáticas e monolíticas com fronteiras impermeáveis por um modelo menos restritivo que reconhece a natureza dinâmica, negociável e situacionalmente construída da etnia. Finalmente, ela questiona a noção de que a identidade étnica é constituída primariamente por traços genéticos, língua, religião ou mesmo formas culturais comuns. Enquanto todos estes atributos possam agir como símbolos importantes de identidade étnica, eles realmente só servem para impulsionar uma identidade que é essencialmente construída pelo discurso escrito e falado".

Claramente, esta passagem admite que "um mito putativo de ascendência e familiaridade compartilhada" e "território primordial" possam desempenhar um papel na auto-identificação de grupos, mas então propõe que a etnia nunca é estática, mas dinâmica e "construída situacionalmente", e, no fim, decide que ela é "essencialmente construída" por discursos. Este é efetivamente o estado da pesquisa sobre etnia hoje - uma confusão pós-moderna aparentemente jogando com múltiplos lados, mas "essencialmente" definindo a etnia em termos discursivos muito similares à definição cívica de Kohn, ao mesmo tempo evitando quaisquer referências biológicas substantivas. Hall não revela as considerações políticas subjacentes a esta ênfase renovada em afinidade étnica. Ele assume que foi uma questão puramente escolástica conduzida por professores universitários buscando a verdade. Ele ignora as vozes crescentes defendendo simultaneamente a autenticidade étnica de minorias não-europeias e pelo caráter inautêntico das nações cívicas europeias. Tal como as identidades étnicas de não-europeus estavam sendo propagandeadas como liberadoras e progressistas, a noção de que as nações ocidentais eram cívicas desde o século XVIII, ou até antes, era cada vez mais tema de críticas devido a seu tratamento "discriminatório" de minorias dentro de suas fronteiras, seus desígnios imperiais, e suas políticas imigratórias exclusivistas, que apontavam para a presença de discriminação étnica e, assim, para a realidade da etnia.


É claro, isto não é bem como o ressurgimento do interesse em etnia foi interpretado por seus defensores. Não há como negar também que a ideia de que nações ocidentais eram simplesmente cívicas parecia distante da realidade, independente de quais fossem as suas intenções políticas. O principal crítico do conceito de nacionalismo cívico foi Anthony Smith, partindo de seu livro, A Origem Étnica das Nações, e múltiplas publicações desde então. Seu principal argumento era o de que as nações modernas não foram criadas ex nihilo com base em valores cívicos apenas ou por causa do desejo de elites dominantes de aumentar sua autoridade por meio de infraestruturas modernas; ao invés, os Estados-nações foram criados com base em laços ancestrais pré-existentes e em um senso de continuidade histórica. Um senso de nacionalidade predatava a era moderna e podia ser traçado tão longe quanto tempos antigos e ao redor de todo o mundo. As nações da Europa não eram meras "invenções" ou demandas funcionais da modernidade, mas factualmente enraizadas no passado, em mitos comuns de ascendência. Ainda que a ascensão da indústria moderna e das burocracias modernas permitisse a materialização de Estados-nações na Europa, estas nações eram primordialmente baseadas em uma população com um senso coletivo de afinidade.

A obra de Smith foi indubitavelmente frutífera em desafiar a noção de que as nações ocidentais eram inerentemente cívicas. Ainda assim, apesar de tudo, o conceito de etnia de Smith era mais sobre a importância de comunidades passadas, um território mais ou menos determinado, uma língua, estilos artísticos, mitos e símbolos, estados mentais, do que sobre enfatizar qualquer forma de identidade ligada ao sangue - linhagem comum e consanguinidade efetivas. Certamente, um grupo étnico não pode ser categorizado como uma raça, mas seu conceito de etnia seguia a proibição ordenada às ciências sociais contra a inclusão de referências biológicas, características físicas, cor de pele, forma corporal, e outros traços que possuem dimensão racial. Etnia foi definido por Smith em termos de traços culturais, linguística, traços históricos e territoriais, mitologia comum e costumes.

Ao mesmo tempo, enquanto Smith estava ocupada escrevendo obras históricas, e sem sua plena consciência, uma avalanche de programas etnicamente orientados, centenas de conferências e acadêmicos estavam avidamente afirmando o valor da etnia, mas apenas em relação a grupos "oprimidos". Escrever sobre isso demandaria um artigo separado. Talvez a melhor maneira de resumir nossa obsessão atual com discurso étnico é olhar para as declarações de intenção de programas de Estudos Étnicos ou departamentos. Estes são bastante vocais em afirmar que raça é uma realidade do Ocidente que não pode ser ignorada porque o racismo tem sido e continuar ser "uma das forças culturais e sociais mais poderosas na sociedade americana na modernidade".

A Perspectiva Sociobiológica Politicamente Correta de Azar Gat

Há um autor atual citado anteriormente, Azar Gat, professor de Ciências Políticas da Universidade de Tel Aviv, que parece oferecer uma forte concepção biológica de etnia, em seu livro Nações: A Longa História e as Raízes Profundas da Etnicidade Política e do Nacionalismo.


Este livro é apresentado como tendo sido escrito desde uma "perspectiva sociobiológica". Os capítulos iniciais e a conclusão definitivamente afirmam que nações "estão enraizadas em sentimentos humanos primordiais de afinidade cultural-familiar, solidariedade e cooperação mútua, evolutivamente impressos na natureza humana". Concordando com "muito" do que diz Smith, ele ainda considera que deixou a desejar a sua falta de ênfase na natureza humana, em teoria evolucionista, e sua ausência de disposição para romper com uma perspectiva culturalista. Ele escreve que a "etnicidade é de longe o fator mais importante" na identidade nacional e que ao longo da história as nações "preponderantemente se correlacionam e relacionam com traços cultural-familiares compartilhados". Saudando a aplicação da teoria evolucionista para explicar comportamento humano, ele diz:

"Sua relevância a nosso tema pode ser resumido como segue: as pessoas tendem a preferir os seus semelhantes, que partilham mais genes com elas, aos mais dessemelhantes ou 'estranhos'. Como uma propensão, isto não é necessariamente consciente". 

Mas logo se torna aparente que Gat (apesar de seu reconhecimento correto de que os humanos possuem fortes disposições genéticas e que a preferência pelo próprio semelhante é um comportamento evolutivamente selecionado, ao invés de um epifenômeno "irracional") não está disposto a reconhecer, ou mesmo dizer qualquer coisa sobre as disposições étnicas racionais de europeus, mas efetivamente toma como dado que os europeus habitam nações dedicadas à criação de novas identidades étnicas imigrantes sob o guarda-chuva de uma cultura comum que não pode deixar de ser definida em termos cívicos. Gat é bastante efetivo em documentar a importância de afiliações étnicas e cultura comum para Estados pré-modernos, incluindo impérios, origens dos Estados europeus modernos e dos Estados não-europeus.


Porém, no que concerne as nações ocidentais atuais experimentando a imigração em massa, nunca ocorre a Gat considerar as afiliações ancestrais e afinidades de semelhança dos povos que tem habitado estas terras por mais tempo e as transformaram em nações modernas. Ele simplesmente aceita sem questionar a experiência da imigração em massa como se ela fosse uma ocorrência natural consistente com as histórias étnicas de nações ocidentais. Ele propõe uma nova definição de etnia para lidar com a realidade da imigração em massa, o que é inconsistente com sua perspectiva sociobiológica. Ele propõe, de fato, uma definição imigrante da etnia, indicando que, conquanto sua definição de etnia não esteja restrita a cultura, ela vê a etnia como "um processo" não exclusivo a uma etnia, mas capaz de explicar a formação de "Estados imigrantes" e como tais Estados "habitualmente integram novos recém-chegados em uma comunidade cultural ampla".

Não há espaço aqui para atentar para algumas das coisas que ele diz sobre Espanha, França, Grã-Bretanha e Canadá. Ressaltar o que ele diz sobre os EUA e a Europa em geral deve bastar para ilustrar sua abordagem um tanto quanto cívica e efetivamente multiculturalista no que concerne a identidade étnica europeia atual. Ainda que Gat insista que a nacionalidade americana não esteja fundada apenas em proposições liberais, e que "existe uma cultura americana bastante singular, amplamente partilhada pela maioria...um idioma inglês-americano comum e costumes amplamente difundidos...indústria do entretenimento, Hollywood e televisão", com uma forte linhagem anglo-protestante, ele se rende a uma definição cultural da América vendo a etnicidade americana como uma realidade mutante, não apenas em relação a diversos imigrantes europeus, mas em relação a políticas imigratórias pós-1965, que ele vê como uma continuação natural de tendências anteriores.

Meu ponto não é negar que a etnicidade americana está mudando, mas perguntar por que ele se recusa a dizer uma palavra sobre "as profundas preferências humanas pelos seus semelhantes" que os europeus americanos podem sentir face a imigração maciça desde 1965 de nações não-europeias. Ou, se ele pensa que europeus americanos estão satisfeitos com a imigração maciça de mexicanos, por que este é o caso, e se isso significa, portanto, que a nacionalidade americana é, de fato, estritamente cultural? Ou, poderia ser que Gat não está consciente das realidades políticas mais amplas que moldam a maneira pela qual pensamos sobre etnicidade, e que povos europeus, e apenas povos europeus, estão proibidos de afirmar sua etnia em face de um sistema de imigração maciça imposto por todo o mundo ocidental, e que cientistas sociais como Gat tem sido incentivados a seguir com o programa, a não ser que queiram arriscar suas carreiras?


O esforço de Gat para afirmar que a América é uma nação com identidade imigrante tem peso quando se considera que o período imigratório pré-1965, que, após difíceis tensões raciais resultando dos altos níveis de imigração de diversas nações europeias nos séculos XIX e XX, se tornou uma nação bem unificada nos anos 50, exceto por seus habitantes não-europeus, africanos e nativos. Mas ele não considera se esta identidade imigrante foi alimentada com sucesso graças às heranças etno-europeias compatíveis da maioria dos imigrantes. Ao invés, ele toma como dado que os padrões imigratórios à América pós-65 são os mesmos de antes, escrevendo que "a imigração latina não é fundamentalmente diferente das ondas anteriores de imigração em sua aculturação gradual". Ainda que ele tenha consciência desse argumento, ele pensa poder enfatizar a identidade étnica imigrante da América simplesmente apelando ao uso comum da língua inglesa, ignorando quão comum o espanhol está se tornando em muitas localidades por todo os EUA e como brancos exibem padrões implícitos de separação racial em sua escolha de áreas residenciais para criar suas famílias e educar seus filhos, não obstante suas afirmações explícitas sobre os benefícios da diversidade.

Tendo pintado os EUA como uma nação com uma etnicidade singularmente imigrante, ele parece perdido tentando explicar a importância de identidades étnicas em nações europeias atuais e no Canadá. "O fenômeno da imigração em massa transformou o mapa das identidades em países ocidentais nas décadas recentes". Como e por que europeus atuais estão permitindo que identidades étnicas milenares fundando a formação de seus Estados-Nações sejam radicalmente diluídas se o nacionalismo étnico é verdadeiramente, nas palavras de Gat, "uma das forças mais fortes na história"? Como eles sobrepujaram sua predisposição genética a ter uma preferência pelos seus semelhantes, e por que Gat está tomando a imigração em massa como se fosse um processo natural ou de alguma forma parte e parcela da identidade nacional europeia sem mesmo fazer uma pergunta? Uma abordagem sociobiológica honesta demandaria tais perguntas, mas Gat só formula questões culturalistas ao efeito de que "não poucos imigrantes e seus descendentes estão de fato se integrando, culturalmente e socialmente, bem o suficiente para que sejam descritos como 'unindo-se à nação'." Mas como que as nacionalidades étnicas originais da Europa estão se integrando com os novos imigrantes? Se a identidade étnica é tão importante, por que espera-se que os europeus aceitem, em suas palavras, uma "conexão fraquejante" entre seus Estados-Nações e sua herança etnocultural? No fim, Gat não tem escolha além de mudar sua abordagem sobre identidade étnica na direção dos valores liberais que Hans Kohn equiparou com o nacionalismo ocidental; mais do que isso, ele não tem escolha senão endossar uma definição multicultural liberal da identidade ocidental.


Ele pensa que uma boa indicação na Europa de uma cultura nacional comum é o "recuo" recente do multiculturalismo "que levou a reenfatizar em muitos países a conexão entre cultura (majoritária) e política", mas ele nunca apresenta quaisquer objetivos compartilhados entre imigrantes, uma cultura majoritária e o Estado. O único fator que ele consegue apresentar em nome de uma cultura imigrante comum, para repetir, é o fato de que os imigrantes estão aprendendo o idioma das nações imigrantes. Mas e quanto a afiliações patrióticas a símbolos europeus passados, e quanto a canções folclóricas, e quanto a figuras históricas lendárias, comida, isto é, traços compartilhados que podem ser categorizados em termos étnico-familiares? Nem uma palavra. Ao invés, nós recebemos a atitude usual de que as coisas devem estar dando certo já que não há guerra civil, os imigrantes estão tentando vencer economicamente e educar seus filhos. A única cultura comum que parece estar ligando a imigração ocidental é o marxismo cultural, uma ideologia imposto desde cima, sem consenso democrático, por elites burocráticas convictas de que a diversidade é uma melhora e que os europeus são racistas a não ser que eles procriem com milhões de não-brancos. Ele regularmente cita Will Kymlicka, chamando-o de "principal teórico do multiculturalismo liberal" de maneira simpática, sem jamais chamar atenção para o chamado aberto de Kymlicka para que se ponha um fim a quaisquer elos intrínsecos entre os Estados-Nações da Europa e qualquer forma de etnia que possa ser chamada "europeia". Não é bastante revelador que o mesmo autor que escreve um livro dedicado a uma abordagem sociobiológica das raízes étnicas das nações acabe simpatizando com o principal defensor do multiculturalismo no Ocidente?

Conclusão

A resposta sensível que se deve alcançar ao examinar o debate entre nacionalismo cívico e nacionalismo étnico é que a pesquisa histórica valida a ideia de que os Estados-Nações europeus foram fundados ao redor de um forte núcleo étnico, ainda que houvessem minorias coexistindo com maiorias. Os Estados da Europa ocidental desenvolveram instituições cívicas liberais dentro do esquema desse núcleo étnico. A pesquisa sociobiológica ainda valida a inclinação natural de humanos a preferirem os seus semelhantes. Esta pesquisa biologicamente fundada demonstra que os homens não podem ser abstraídos de um coletivo étnico. A afirmação de que tal preferência é uma disposição irracional imposta de cima por elites reacionárias é falsa. O etnocentrismo é uma disposição racionalmente impulsionada consistente com liberdades cívicas. Liberdades cívicas são consistentes com um senso coletivo de cultura compartilhada por semelhantes. O que não é consistente com pesquisa racionalmente fundada são as afirmações de que as nações ocidentais eram cívicas em suas origens e a imposição atual de imigração maciça sem abertura para debate racional aberto. 

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