O Amor perde:
A falsa união da sodomia
Escrevemos
(xaviersthrone) este curto e introdutório
artigo sobre o Amor e sua decadência perpetrada pelo ethos moderno, não porque
estamos 'desapontados' ou de algum modo escandalizados pela recente aprovação
do "casamento" gay nos EUA; aceitamos este evento como algo
inevitável, um tipo de 'símbolo' no sentido de Spengler de eterna decadência da
Civilização Ocidental. Há muito que nos conformamos com a queda do Ocidente e,
salvo pela intervenção de fontes sobrenaturais, com a impossibilidade de sua
salvação ou recuperação da sua saúde anterior. Simplesmente estamos usando este
evento como desculpa para proliferar uma crítica essencial das perversões
homossexuais, para investigar como o fenômeno do "casamento" gay
simboliza ou de fato epitomiza a weltanschauung moderna, e finalmente
reforçar o tradicional, supramoral sentido de Amor.
Em
segundo lugar, desde que compreendemos a definição de sodomia como um ato
meramente sexual que não é em vista à procriação, estamos usando-a para se
referir exclusivamente aos atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Isto é
porque, desde que masturbação, felatio e especialmente o sexo anal entre um
homem e uma mulher são perversões, os atos feitos entre membros do mesmo sexo
são particularmente desvios da ordem normal e por isso ainda mais
representativos do que estamos falando aqui: é o pecado da sodomia entre
homens, sobretudo, que 'clama aos Céus por vingança' (entre pessoas do mesmo sexo,
não pode haver ato sexual em vista de outra coisa senão aos prazeres da carne,
e é por isso que o homossexualismo é essencialmente pecador).
Aqui está a chave para toda a metafísica do sexo:
Através da Díade para a Unidade ~Julius Evola
Para realmente
compreender algo físico devemos primeiro compreender o metafísico. O homem, em
sua original e superior forma, é um ser sexualmente indiferenciado. Seu estado
ontológico em sua perfeição primordial é de absoluta unidade, possuindo dentro
de si tanto o princípio masculino como o feminino coerentemente organizado e
todo em si mesmo. É só como resultado da criação, da participação no mundo da
regeneração, onde as coisas são caracterizadas por sua multiplicidade e
dualidade ao invés da unidade ou unicidade, que as formas masculina e feminina
surgem: 'Trazido para baixo pelo abismo de seu pecado, o homem sofreu a divisão
de sua natureza no masculino e no feminino, e pelo fato de que ele não quis
usar o modo celeste de propagação, um justo julgamento reduziu-o à
multiplicidade da forma animal e corruptível, consistindo em masculino e
feminino' (John Scotus Eriugena, De Divisione Naturae). A queda
mitologizada no Gênese descreve a queda do homem originalmente integrado para
dois entes separados, enquanto certamente capaz de recrear depois a anterior
unidade através do amor mútuo, que são não obstante condenados a continuamente
engendrar entes separados por copulação. Essa interminável divisão do homem
representa sua separação de Deus, cuja semelhança o homem carrega em sua
totalidade:
Deus
criou sua imagem e semelhança em um único homem. Adão foi um homem e também uma
mulher... pois Deus não fez no começo homem e mulher, ele não os criou ao mesmo
tempo, porque a vida na qual as duas propriedades do masculino e do feminino
são unidas em uma só consiste no homem em imagem de Deus (Jacob Böhme, Mysterium
Magnun)
Homem e
mulher são portanto duas metades de um todo, dissociados um do outro em toda
forma concebível. Eles são como dois pólos opostos em um espectro metafísico,
com o princípio de masculinidade representando a criatividade e a liderança e o
princípio feminino representando a fertilidade e a submissão: 'O masculino
representa a forma específica; o feminino representa a matéria, sendo passivo
desde que ela é feminina, onde o masculino é ativo' (Aristóteles, De
Generatione Animalium). Na 'realidade ordinária', i.e., o domínio da
multiplicidade; esses dois pólos constituem a Díade que define toda criação
material; essa dualidade é expressa simbolicamente, tal como o Sol e o elemento
do fogo simbolizam a masculinidade enquanto a Lua e o elemento da água
simbolizam a femininidade.
Isso se
estende para toda a metafísica tradicional; assim como as escolas peripatéticas
ocidentais consideram a forma como masculina e a matéria como feminina, o
sistema védico compreende purusha (espírito) como masculino e prakriti
(natureza) como feminina. Nos Upanishads, purusha é o princípio criativo
imaterial, que se expressa através de prakriti, o material mutável; e no
Tantra a entidade principial e imóvel é o deus Shiva, cuja 'emanação' no
sentido blakeano é a deusa Shakti, que orbita Shiva e permite à natureza
hipostática dele que se manifeste em si na criação. No 'Grande Tratado', um dos
principais comentários do I Ching, a mesma fórmula é expressa assim: 'O
masculino age de acordo com o modo do criativo, onde o feminino opera de acordo
com o modo do receptivo' (T Chuan, I, p. 4). Dos rituais helênicos e
romanos que associaram a masculinidade com o fogo e a femininidade com a água
aos conceitos da Kabbalah de dubrah e nubkah (Deus e sua
Shekinah), toda metafísica tradicional intuiu a mesma fundamental realidade: o
masculino é criativo e o feminino é receptivo, e juntos eles são necessários
para o sustento da vida como a conhecemos. São duas partes de um todo (por isso
o Shiva hermafrodita, Ardhanarishvara, que representa o todo sintético de Shiva
e Shakti).
O
conceito de yin e yang é um exemplo particularmente útil no que
ele precisamente explica a interdependência dos princípios masculino e feminino
e a necessidade de sua união. De novo, toda realidade é condicionada e
concebida em termos do masculino e do feminino, yang e yin.
'Todos os fenômenos, forma, entes, e mudanças do universo são considerados no
nível de vários encontros e combinações do yin e do yang... Do
seu aspecto dinâmico yang e yin são opostos, mas também forças
complementárias. A luz e o Sol têm uma qualidade yang, ao passo que a
sombra e a Lua têm a qualidade yin' (Julius Evola, Eros e os Mistérios
do Amor: a Metafísica do Sexo). O masculino e o feminino pertencem à mesma
ordem de ideias, como virilidade e fertilidade, atividade e passividade,
espírito e natureza; eles são análogos um ao outro, cada um representando de
forma diferente o que o outro também representa. Eles representam
essencialmente o princípio da dualidade que intervém sobre toda a realidade
criada; eles representam o que os pitagóricos chamam de 'Díade', a lei da
oposição que define tudo que é manifestado.
Está
também de acordo com esta lei que cada princípio requer e deseja seu oposto,
pois em seu estado diferenciado é inútil: o que é a criatividade sem o material
para o uso da criação? o que é a virilidade quando tudo é estéril? Assim como
não podemos reproduzir sem cooperação com o sexo oposto, também não podemos
preencher nosso si sem a participação 'no outro', o que quer que seja aquilo
que não possuímos. O próprio Platão diz que 'qualquer pessoa sem qualquer
hesitação julgaria que se ouvisse seu próprio desejo por longo tempo, seria
estar unido e fundido com seu amado a fim de formar uma única natureza de todos
os entes distintos. Agora, a causa desse desejo está na nossa natureza primitiva
quando constituímos uma unidade que era completa; é realmente o anseio ardente
por essa unidade que carrega o nome do amor' (Platão, O Banquete). Toda criação
deseja a totalidade desde que toda criação deseja retornar à sua forma original
e precondicionada.
Em seu
aspecto mais profundo, o Eros incorpora um impulso para superar as
consequências da Queda, para deixar o mundo restritivo da dualidade, restaurar
o estado primordial, ultrapassar a condição da existencialidade dual, rachada e
condicionada pelo "outro". (Julius Evola, Eros e os Mistérios do
Amor: A Metafísica do Sexo)
II
Isso nos
traz de volta ao nosso assunto. Como Platão disse acima, o Amor é o meio pelo
qual alcançamos essa totalidade, nossa união conosco mesmos. Quando desejamos
fortemente algo, vemos nesse objeto uma parcela do Céu, da realidade
inteligível, e acima de tudo uma parcela daquilo que nós mesmos somos: 'o Amor,
assim, é toda intenção para aquele outro encanto, e existe para ser o medium
entre o desejo e o objeto do desejo. É o olho do desejador; por seu poder o que
ama é capaz de ver a coisa amada' (Plotino, As Enéadas, III, v. 2). Essa dor
inicial que sentimos quando o amor é despertado é evidência de nosso
conhecimento sobre a ausência de uma parte de nós mesmos; é como uma pessoa
faminta que se torna sutilmente, tortuosamente consciente da sua fome quando vê
e cheira algo delicioso, apenas mil vezes mais agonizante devido à mais
grandiosa necessidade de satisfação espiritual ao invés de física. Soloviov
concorda que o homem em sua 'natureza empírica' é cheio desse estado constante
de querer, e tenciona que o fim do Amor é reintegrá-lo em suas 'partes
perdidas':
O caráter
peculiar da nossa natureza espiritual consiste apenas em uma habilidade humana,
enquanto permanecer o mesmo ser humano, de acomodar o conteúdo absoluto em sua
forma própria, tornar-se uma personalidade absoluta. Mas a fim de ser
preenchido com o conteúdo absoluto... este mesmo homem deve ser restaurado em
sua inteireza (deve ser integrado). Na natureza empírica do ser humano, assim,
não é assim - ele existe só em uma univocidade e finitude específica, como uma
individualidade masculina ou feminina. No entanto, um homem verdadeiro na
totalidade de sua personalidade ideal... não pode ser meramente masculino ou
feminino, mas deve ser a maior unidade de ambos. realizar essa unidade, criar o
verdadeiro ser humano como uma unidade livre dos princípios masculino e
feminino, preservar sua individualização formal, mas tendo ultrapassado sua
separatividade e divergência essencial - essa é a missão própria e
imediata do amor. (Vladimir Soloviov, O Significado do Amor)
A
reconciliação da individualidade masculina com a feminina é necessária para a
formação da verdadeira personalidade. Isso é verdade porque o homem em sua
essência não é nenhuma delas: ele é ambas. Otto Weininger supôs que somos
naturalmente atraídos a, mesmo no sentido psicossomático, indivíduos que
possuem uma substância que não possuímos. 'Todos os indivíduos têm tanta
femininidade quanto carecem de masculinidade. Se são completamente masculinos
eles desejarão uma contraparte completamente feminina, e se são completamente
femininos, uma completamente masculina. Se, no entanto, eles contêm uma grande
proporção de Homem e outra, de modo algum desprezível, proporção de Mulher, vão
demandar um indivíduo que complementará as partes e a masculinidade fragmentada
para formar um todo; ao mesmo tempo, sua proporção de femininidade será
completada do mesmo modo' (Otto Weininger, Sexo e Caráter). Assim, alguém que é,
por exemplo, '75% masculino' será naturalmente mais atraído a uma mulher que é
'75% feminina', e vice-versa, porque é nesse sentido que ambos indivíduos
melhor completam um ao outro; eles estão preenchendo o que cada um deles carece
dentro de si. A lei da 'atração dos opostos' nunca foi mais clara. De modo
algum há algo como um 'transgênero', porque conforme somos nascidos masculino
ou feminino teremos sempre uma maior porção do princípio em cuja representação
sexual somos nascidos. Mesmo se alguém é somente '51% masculino' (e portanto
'49% feminino'), ele é um masculino autêntico, e nenhum tipo de cirurgia ou
drogas alterará seu estado interior. Isto é porque as coisas são manifestadas
de acordo com os princípios metafísicos, e portanto não sujeito à probabilidade,
mas por autoridade causal:
Se o
nascimento não é uma questão de probabilidade, então não é uma coincidência
para um ente estar "desperto" para si no corpo de um homem ou uma
mulher. Aqui também, a diferença física deveria ser vista como equivalente a
uma diferença espiritual; por isso um ente é um homem ou uma mulher no modo
físico somente porque um ente é ou masculino ou feminino de um modo
transcendental; diferenciação sexual, longe de ser fator irrelevante na relação
com o espírito, é o sinal que aponta para uma vocação particular e para um dharma
distintivo... O homem e a mulher são dois tipos distintos; aqueles que são
nascidos homens devem realizar-se como homens, enquanto aquelas que são
nascidas mulheres devem realizar-se como mulheres, superando qualquer mistura e
promiscuidade de vocações. (Julius Evola, Revolta Contra o Mundo Moderno)
Nós já
podemos adivinhar o que isso tudo significa para a atividade 'homossexual', e
de fato Weininger vai dizer que a grande maioria das relações homossexuais
ocorrem onde os parceiros são intermediatamente diferenciados, significando que
eles possuem altas proporções de H e M e assim desejam parceiros que são também
intermediatamente diferenciados; o homem que tem 49% M em si terá mais atração
por um homem com o mesmo de proporção do que por um homem que é 80 ou 90% H.
Isto explica a muito alta proporção de homossexuais homens e mulheres que
também se identificam como 'bissexuais', ou são pelo menos não aversos às
relações sexuais normais. Evola também apóia esta idéia, mas acrescenta que
'quando a homossexualidade não é "natural" [de acordo com a teoria
mediana da diferenciação sexual explicada acima] ou então não pode ser
explicada em termos de formas incompletas de desenvolvimentos sexuais no
nascimento, deve haver um caráter de desvio, um vício ou perversão' (Julius
Evola, Eros e os Mistérios do Amor: A Metafísica do Sexo). Então, na nossa
sociedade, por exemplo, onde as desordens espirituais e mentais (aquelas que
não são simulação psiquiátrica) resultado da dissolução da família, da
comunidade, e da natureza socio-política inteira, são mais difundidas que
nunca, é completamente esperado que o nível de sexo sodomita seja alto como é,
certamente mais alto que teria sido se seria limitado a parceiros que beiram os
50% H e 50% M.
O
verdadeiro crime da atividade homossexual consiste simplesmente em sua completa
inversão da interação normal dos sexos. As tradições metafísicas que
sublinhamos acima não são abstrações teóricas que existem em um 'vácuo
intelectual'; são fundamentalmente reais, em comparação com este mundo criado,
o 'véu de Maya', que não é senão distorção ilusória. Elas profundamente
influenciam este mundo porque são este mundo em sua forma mais
verdadeira e articulada. Na performance da união copulativa, por exemplo, o homem
e a mulher recriam a gênese do mundo; eles se fundem e criam não apenas uma
vida gerada por eles, um novo mundo, mas criam a si mesmos
através da síntese erótica de cada um. 'Cada um dos dois sexos é uma imagem do
poder e da ternura de Deus, com igual dignidade embora em modo diferente. A
união do homem com a mulher em casamento é um modo de imitar na carne a
generosidade e a fecundidade do Criador' (Catecismo da Igreja Católica, n.
2335). O homem se torna homem verdadeiro, a mulher se torna mulher verdadeira,
e juntos se tornam o novo Adão: 'E eles dois devem ser um na carne. Portanto
eles não são mais dois, mas uma carne' (Marcos, 10:8). A Queda é vencida pela
união física que, sacramentalmente, também tem a natureza da união mística;
onde eles foram anteriormente opostos um ao outro, os princípios duais (yin
e yang, Shiva e Shakti, Nut e Geb) são agora imediatamente combinados na
máxima expressão da natureza essencial e nas suas relações um com o outro:
Se a raiz
da falsa existência consiste na impenetrabilidade, i.e., na exclusão mútua dos
entes, então a verdadeira vida é viver num outro ao invés de em si mesmo, ou
encontrar no outro o positivo e absoluto preenchimento do próprio ser. A base e
o tipo dessa verdadeira vida permanece e sempre será sexual ou amor conjugal...
A união pressupõe a verdadeira separatividade daquele ser unificado, i.e., uma
separatividade pelo poder do qual eles não se excluirão, mas mutualmente
preencherão um ao outro, cada qual encontrando no outro o preenchimento a sua própria
e adequada vida [his own proper life]. (Vladimir Soloviov, O Significado do
Amor)
A sodomia
não tem nenhuma justificação ou bênção; não há telos qualquer para sua
prática: 'Os atos homossexuais são contrários à lei natural. Eles fecham o ato
sexual ao presente da vida. Eles não procedem de uma complementariedade
genuína, afetiva e sexual' (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357). Esta
intransponível disputa entre a atividade sodomita e o homem e a mulher como
eles realmente são é o que torna anti-natural em ambos um sentido metafísico e
físico. De fato, é pelo fato de que não há legitimidade metafísica às relações
homossexuais que não há legitimidade física: a copulação do homem com a mulher
resulta no nascimento de uma nova vida por causa de sua união em um nível
superior (pelo menos in potentia; a procriação que é a consequência de
sexo extraconjugal é ainda natural, mas está divorciada do sacramento do
casamento, por isso é de menor qualidade devido à ausência de uma autoridade
sacra que abençoa a união).
A
copulação do homem com um homem ou de uma mulher com uma mulher, por outro
lado, não carrega nenhum fruto por causa da sua incompatibilidade na natureza
principial. O princípio de masculinidade só age de acordo com sua natureza
quando é associado com o princípio de femininidade , que correspondentemente
age de acordo com sua natureza; aquele que é viril e criativo naturalmente
deseja aquela que fará manifestar estas qualidades em si, que é, claro, a
fertilidade e a passividade da contraparte feminina. Ao renegar este acordo
primordial e a lei metafísica, a 'união' homossexual se condena a uma
perseguição infrutífera de algo que mira para uma direção completamente errada;
é uma caricatura sacrílega da suprema união, e torna algo que é idealmente
espiritual e sacro em algo estritamente físico e portanto feio. Ao invés da
satisfação sentida quando algo suavemente se encaixa, como derramar vinho em
uma taça, o ato sexual consiste essencialmente da frustração envolvida em
derramar água em uma peneira, porque há zero de complementariedade entre dois
princípios ativos e dois passivos: o masculino e o feminino criam um todo
auto-suficiente que completa um ao outro, ao passo que o masculino e o
masculino ou o feminino e o feminino são condenados a vagar sozinhos,
irresgatáveis e inseparados de si mesmos.
Todos os
amores naturais, todos que servem aos fins da Natureza, são bons... aquelas
formas que não servem aos propósitos da Natureza são meramente acidentes em
perversão: em nenhum sentido são Entes-Reais ou ainda mesmo manifestações de
qualquer realidade; pois eles não são assuntos da alma; são meramente
acessórios de um defeito espiritual que a alma automaticamente exibe na total
disposição e conduta. (Plotino, As Enéadas, III, v. 7)
Se a meta
de toda vida humana é se tornar reintegrada como uma pessoa inteira no modo de
Adão antes de sua Queda, não pode se seguir disso que estabelecendo uma relação
erótica com uma mulher é necessário para este fim, pois isto significaria a
futilidade e todos ascetas e homens santos e outros tipos que têm certamente se
aproximado a esta realidade que a vasta maioria dos homens e mulheres casados.
A verdade é que a capacidade para reintegração subsiste na profundeza de nós
próprios: o potencial para se tornar inteiro está em cada um de nós. Amar uma
mulher é simplesmente o meio mais direto disponível porque está ordenadamente
alinhado com nossos apetites da libido, mas é dificilmente o único, como os
vários caminhos espirituais ou iogues para a auto-completude são manifestamente
singulares pela natureza, orientados em torno do preenchimento da própria
natureza ou dharma. De fato, até mesmo no amar uma mulher o que na
verdade estamos fazendo é amar a nós mesmos; a presença de outra pessoa
é meramente o objeto que faz faiscar no homem o desejo por algum elemento de si
mesmo mostrado em uma indivíduo separado. A verdade disso deveria já ser
aparente pela virtude de nossos argumentos anteriores, que homem e mulher são
realmente uma entidade, e que homens e mulheres inerentemente perseguem seres
cujas naturezas correspondem ao que eles carecem em um esforço de criar um
inteiro; assim, se nós realmente sentimos amor como um desejo ardente para restaurar
a nós mesmos a um estado anterior de integração, faria sentido ver em nosso
amado simplesmente a outra metade da qual nós uma vez fomos.
É crucial
não ser confundido pelo que significamos com "amar a si mesmo". Nós
certamente não queremos dizer que estamos engajados em um narcisismo
auto-erótico em que idolatramos nosso ego ou os fragmentos sombrios da nossa
própria personalidade maleável; o que realmente queremos dizer é que o amor
daquilo que somos como um todo composto, de nosso si como um composto da
pessoalidade do masculino e do feminino harmonicamente organizado. Em nosso
amor por outra pessoa nós vemos nós mesmos como perfeitos: 'Quando acontece de
um homem amar,, ele ama a si mesmo. Não sua subjetividade, não o que atualmente
representa como um ente infectado com toda fraqueza e baixeza, toda falta de
graça e toda mesquinhez, mas o que ele quer ser completamente e o que ele deve
ser completamente, sua natureza mais pessoal e mais profunda, livre de qualquer
migalha de necessidade e de qualquer resíduo de sua natureza terrena' (Otto
Weininger, Sexo e Caráter). A constituição perturbada e amorfa da realidade
ordinária e de nossas mentes conscientes é repentinamente clarificada em algo
tão sólido e verdadeiro que nós não podemos ajudar, mas derramar nossos
corações, sentindo nosso amado como algo absolutamente necessário para o nosso
ser. 'Não é por amor à mulher que ela é desejada pelo homem, mas antes por amor
ao atman' (Brihadaranyaka Upanishad, IV). O atman é o mais alto
princípio do Si, absolutamente real e imutável pelos fatores condicionais (tais
como espaço e tempo) do mundo criado, e é o que vemos no que amamos. Shakespeare lindamente expressa esta ideia em um soneto:
Mine eyes have drawn thy
shape, and thine for me
Are windows to my breast,
wherethrough the sun
Delights to peep, to gaze
therein on me.
[Meus olhos puxaram tua forma, e elas para mim
São janelas para meu peito, onde o sol
Adora chilrear e mostrar para mim.]
(William Shakespeare, Soneto 24)
O poeta
neoplatônico francês Antoine Hermoet é igualmente sublime em sua descrição da
mesma coisa:
[I meditated upon] how our
hearts, bent on "death",
Revived one another;
How mine, loving his,
Transformed itself into his
without changing.
[Meditei sobre como nossos corações, curvados para a "morte",
Reviveram um no outro;
Como o meu, amando o seu,
Transformou-se no seu sem mudar]
(Antoine Heroet, La
Parfaicte Amye)
Então, de
novo, em forte contraste com a ordem normal das coisas, as relações
homossexuais são fundadas não em um amor espiritual do Si concebido como um
todo perfeito composto tanto de masculino e de feminino, mas em um amor
puramente físico do ego. O ato sexual do sodomita não é algo que simboliza a
harmonização do masculino e do feminino em uma carne e uma alma, mas algo que
representa o falso amor do homem por si mesmo; não é o atman que ele
'ama', porque isto implicaria a reconciliação dos opostos em um única Si, mas
meramente seu próprio prazer e desejo ourobórico e possivelmente sua própria
personalidade demente. É de fato nem mesmo uma entrada no Outro: pois ao
couplar com outro homem (ou mulher com mulher) ele está copulando consigo
mesmo; enquanto eles são ostensivamente duas pessoas diferentes, ambos
membros do ato derivam do mesmo princípio de masculinidade, e assim
metafisicamente correspondem ao mesmo indivíduo. É como se Shiva tivesse
tentado atuar através de Shiva ao invés de Shakti; o mundo não seria criado, e
nunca seria reunificado em si mesmo.
O pecado
da sodomia é o pior exemplo do onanismo possível porque simultaneamente
satiriza a união sagrada do masculino e feminino e projeta sobre outra pessoa
os próprios defeitos; pelo fato disso ser extra-matrimonial é manifestamente e
monstruosamente pior neste caso pela virtude do envolvimento de mais um extremo
narcisismo, de desordens psíquicas e espirituais que tomam prazer de práticas
anormais, a confusão da própria masculinidade ou femininidade principial (i.e.,
seu desejo natural em estar com o outro), e a completa ausência de qualquer fim
natural para o fato. Uma vez mais, é essencialmente caracterizado pelo
amor-próprio: 'Perversão pode ser definido como a diversão do desejo sexual de
uma pessoa do sexo oposto para um corpo do sexo oposto... ou a uma pessoa do
mesmo sexo... ou a uma coisa inanimada (fetichismo). Na raiz de todas as formas
de perversão está o amor-próprio, a utilização do outro, que... é visto como
nada menos do que um instrumento para os próprios prazeres (ou dores)'
(Vladimir Moss, A Teologia do Eros). A extensão de quão moralmente e espiritualmente
adverso esse tipo de comportamento é, na medida em que não é auto-evidente, é
completamente iluminada por comparação com o comportamento sexual normal:
O homem
deveria ajudar a mulher a se libertar da sua mulherzisse [womanliness] (como
incompletude), e a mulher, por sua vez, deveria ajudar o homem, a fim de que em
ambos toda a imagem primitiva do homem será interiormente fundida de novo.
Ambos os dois, ao invés de serem meio-homens (homem no sentido geral da
palavra, sentido de humano, N. do B.), tornar-se-ão homens inteiros mais uma
vez, i.e. cristãos. Pois as expressões: ter se tornado um cristão, ser nascido
de novo, e ter encontrado integridade da natureza humana são sinônimos. (Franz
Xaver von Baader, Werke [Trabalhos])
Na crise
do mundo moderno, os princípios que foram uma vez intimamente conhecidos e até
mesmo tomados por certo são inteiramente obscurecidos por tanto um entendimento
exclusivamente empírico e positivista da realidade que determina tudo de acordo
com sua natureza material, como por uma cruzada falsamente 'humanista' pelos
'direitos humanos' ao ponto em que os desejos instintivos e temporais do
indivíduo, independentemente de quão perversos, importam mais que a saúde da
alma ou da comunidade por inteiro. É nesse ambiente que o 'culto ao corpo',
exemplificado pela 'Revolução Sexual' no meio do século passado, foi capaz de
florescer, pois é só na ausência do intelecto e da consciência moral que os
impulsos morais são capazes de revoltar-se desinibidos por seus
constrangimentos normais. Evola está certo em atribuir isso ao atraso do nosso
atual ciclo civilizacional, pois, como qualquer organismo na natureza, nossa
cultura é um antigo animal agonizante: 'Permanece verdade que um interesse
universal e febril pelo sexo e pela mulher é marca de todo período crepuscular
e que esse fenômeno de hoje é um entre muitos sinais de que essa época é a fase
terminal de um processo regressivo... Está claro que hoje pela regressão
estamos vivendo em uma civilização cujo interesse predominante não é nem
intelectual, nem espiritual, nem heróico, nem mesmo direcionado às formas
superiores de emoção. Ao invés disso, o subpessoal - sexo e comida [sex and
belly] - são idolatrados...' (Julius Evola, Eros e os Mistérios do Amor: A
Metafísica do Sexo). É exatamente isto, o subpessoal, que motiva tais
noções como núpcias homossexuais (ou mesmo a normalização da pedofilia,
conforme a 'ladeira escorregadia' procede depressa), pois a real pessoalidade
consiste não em realizar as próprias fantasias sexuais em outro indivíduo, mas
em identificar quem é você, que invariavelmente significa uma
reconciliação do masculino e do feminino dentro de você.
Conforme
o demonstravelmente falso fenômeno do 'casamento gay' se alastra para aqueles
lugares no Ocidente que mais acuradamente imita o ethos da modernidade, é
crucial lembrar que o amor fraternal, ou amor sincero entre homens, é
inteiramente possível - previsto que tais relações são celibatárias. Precisamos
apenas trazers a atenção do leitor para tais práticas de adelhopoiesis
da Igreja Bizantina, que ritualizaram uma extraordinária amizade entre homens,
ou da sociedade co-sanguínea da sociedade nórdica e dos citas que uniram homens
em algo mais que amigos. A diferença, claro, consiste na permissividade
modernista no domínio sexual, onde tudo é permitido tão logo é um 'crime sem
vítimas' (uma terrível vacuidade quando considerado os danos espirituais que
tais atos perpetram); o homem 'gay' se torna gay não meramente por seus hábitos
perversos e sexuais, mas por sua própria identidade. A gayzisse de um
'gay' o marca como se ele fosse mais que qualquer faceta do seu caráter, desse
modo epitomiza a moderna compreensão puramente física da realidade, onde nada
existe a não ser o que se pode tocar e sentir. De fato, a ridícula ideia de
'orgulho gay' serve como um ordinário e transparente símbolo da hubris do homem
moderno: não estamos meramente permitindo nossa regressão em formas piores de
barbaridade, estamos orgulhosos disso, como se estivéssemos chamando
Deus para destruir Babel mais uma vez, desafiando-o a nos ferir.
Em
profunda contradição com isso é a visão de mundo tradicional, de acordo com a
qual o espiritual não é apenas real, mas é mais real que o físico. O homem é
chamado não para 'ser o que é' no sentido vulgar, mas a se tornar aquilo que
ele é essencialmente; que significa a reconciliação dos sexos, que significa se
tornar um homem não-decaído, que significa se tornar como Deus. Sim, isso pode
ser alcançado através do amor especial entre homem e mulher; mas pode ser ainda
mais fortemente alcançado através de uma direta unidade entre homem e Deus: 'Há
necessidade de uma paixão bendita do eros sacro; ele liga a mente aos objetos
espirituais e persuade-a a preferir o imaterial ao invés do material, o
inteligível e o divino ao invés do sensível' (São Maximus o Confessor, Sobre a
Caridade). A 'paixão do eros sacro' é um meio excelente de descrever o fervor
do homem por Deus; em lugar de uma mulher que o inspira a encontrar seu Si, o
homem começa a ver Deus, que o ajudará nisso mais do que qualquer outra coisa.
Ao imitar Deus, o homem se torna como Deus: 'Pois o Filho de Deus se tornou
homem a fim de que nós possamos nos tornar Deus' (Santo Atanásio, De
Incarnatione). O amor entre um homem e uma mulher não é outra coisa além de uma
reflexão do amor que Deus tem por suas crianças, e aqueles que o amam, por sua
vez, estão garantidos pela salvação: 'Eu os amo aqueles que me amam: e aqueles
que pela manhã cedo buscam por mim, encontrar-me-ão' (Provérbios 8:17). O amor
perde quando é reduzido a algo físico, a algo que faz das leis de Deus uma
zombaria e tenta casar duas coisas que já são uma só; o amor vence quando dois
entes diferentes vêm juntos de vidas separadas e solitárias para formar um
inteiro. Pois o amor existe não para nos dividir ou nos juntar aos nossos
elementos mais básicos; o amor existe para nos unificar.
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